Prata Palomares

Dossiê Júlio Calasso


Prata Palomares
Direção: André Faria Junior
Brasil, 1971/84.

Por Sérgio Andrade

Dois guerrilheiros vão parar acidentalmente numa ilha e escondem-se numa igreja em ruínas. Enquanto decidem o que fazer, recebem a visita de uma santa que diz querer engravidar deles dois. Um dos guerrilheiros pretende construir um barco para sair da ilha e o outro se veste de padre fazendo amizade com as autoridades locais. O poder lhe sobe à cabeça e ele vai abandonando os ideais revolucionários para desespero do companheiro e da santa.

Produto típico de um período de nosso cinema, Prata Palomares abusa das metáforas, alegorias, associações de ideias, histerismo (os atores gritam a maior parte do tempo).

Boa parte de sua fama deve-se ao fato de ter sido interditado pela censura por mais de dez anos. Segundo Carlos M. Motta, o filme foi rodado em Florianópolis em 70 e 71, teve dois títulos experimentais, “Palomares, a História de um Padre Louco” e “Paraíso no Inferno”, foi liberado em 1980, só conseguindo lançamento comercial em São Paulo no dia 23/02/84, numa das salas do Belas Artes.

Verificando a ficha técnica, percebe-se que é mais um produto típico do Teatro Oficina: seu criador, Zé Celso, é roteirista ao lado do diretor André Faria Junior, que trabalhou numa das peças mais aclamadas da companhia, Galileu Galilei, ao lado dos atores Renato Borghi, Itala Nandi, Carlos Gregório, Otávio Augusto, Renato Dobal, Carlos Prieto, Elizabeth Kander. Ao que parece o filme, do qual alguns dos atores participaram como assistentes (Otávio de direção; Itala de montagem; Dobal de cenografia), foi responsável por uma crise interna do grupo, seguida do seu esfacelamento. Não é de se estranhar.

Um dos maiores críticos do filme é Jairo Ferreira, que diz que Prata Palomares é prova retumbante da inaptidão de Zé Celso para o cinema, tendo causado repúdio no Festival de Gramado de 1979.

Júlio Calasso Jr., no entanto, não pode ser responsabilizado pelo desastre: ele é creditado apenas como um dos cinco diretores de produção.