Uma Escola Atrapalhada

Dossiê Ewerton de Castro

 

Uma Escola Atrapalhada
Direção: Antônio Rangel
Brasil, 1990.
 

Por Daniel Salomão Roque
 

Nesta fita baseada em argumento de Renato Aragão e dedicada ao mítico Zacarias, falecido pouco depois das filmagens, Ewerton de Castro interpreta Anselmo, inspetor odiado pelos alunos e demais funcionários do colégio Matheus Rosé. Seu personagem é o primeiro a aparecer diante da plateia e logo de cara já  nos oferece um indício de como o filme será conduzido ao longo dos 95 minutos seguintes: de forma esquemática e caricata, nos enfiando goela abaixo uma série de personalidades descartáveis ao mesmo tempo em que desperdiça um tema tão bem aproveitado por autores como John Hughes e Allan Arkush. 

Uma Escola Atrapalhada, afinal de contas, é um pastiche dos milhares de títulos norte-americanos voltados ao público adolescente que, a partir da década de 80, passaram a explorar com frequência cada vez maior o cotidiano de estudantes secundaristas – pautado por aventuras, dilemas, descobertas, professores excêntricos e por sentimentos extremos em relação aos colegas de classe, dentre outros clichês. O filme incorpora todos esses elementos sem, contudo, agregar nada de novo ao gênero, e sua narrativa tampouco deixa transparecer alguma preocupação com um emprego eficiente dos mesmos. 

Na verdade, tudo não passa de uma desculpa esfarrapada para a promoção de figuras repulsivas como Gugu Liberato, Angélica, Supla e o grupo Polegar. Os três últimos encarnam estereótipos juvenis – a pobre menina rica, o repetente valentão, os garotos recém-chegados na escola –, desfilam em frente às câmeras com a desenvoltura de um andróide e, para piorar ainda mais a situação, CANTAM. As três inserções musicais que pontuam o filme constituem pequenos videoclipes que, para além da pobreza estética em si mesma, surgem completamente deslocados da narrativa, e o que poderia constituir uma interessante ruptura se transforma apenas em merchandising barato. 

Uma participação especial dos Trapalhões não salva Uma Escola Atrapalhada da condição de cinema pouco inspirado. Mais do que isso, trata-se de um filme detestável, que, partindo do pressuposto de que adolescentes são meros consumidores de modismos rentáveis e receptáculos de lições moralizantes, subestima descaradamente a inteligência de seu próprio público-alvo. Como antídoto a tamanho engodo, recomenda-se uma sessão de Rock ‘n’ Roll High School, uma verdadeira ode à anarquia, à juventude e ao riso pontuada pelas canções antológicas de um grupo verdadeiramente digno: os Ramones. Depois de aturar a rebeldia domesticada de Supla e o insuportável bom-mocismo de Rafael Ilha e companhia, nada melhor do que ver Joey, Johnny, Dee Dee e Marky dinamitando uma escola.