Adultério por Amor

Dossiê Ewerton de Casto

 

Adultério por Amor
Direção: Geraldo Vietri
Brasil, 1978.

Por Ronald Perrone

Ah, o amor… O que uma mulher apaixonada não é capaz? No caso de Natália, cujo marido, Guido, ela ama acima de qualquer coisa, foi preciso tomar atitudes drásticas para conseguir segurá-lo e salvar o casamento. O fato é que Guido é obcecado pela ideia de ter um filho. Após três anos de casamento, tentando realizar seu grande sonho sem obter resultados, o sujeito acaba frustrado, distante, e perde qualquer tipo de sentimento por sua mulher, enquanto os seus melhores amigos, o casal Flora e Paulo, possuem três crianças, para aumentar o desespero de Guido.   

Cada vez mais preocupada com o destino de seu casamento, Natália recorre a exames médicos para obter algumas respostas, já que Guido coloca a culpa nela, e descobre que o problema, na verdade, está em seu marido. A medida drástica acontece numa viagem, acompanhada de Flora, em uma pequena cidade do interior. Decidida a dar um filho a Guido a qualquer custo, Natália seduz um jovem estudante e o leva para a cama. 

E o rapaz foi certeiro! Natália fica grávida e Guido se torna outra pessoa, o homem mais feliz do mundo. O caldo engrossa quando o estudante descobre o paradeiro de Natália, agora grávida de sete meses, e passa a perturbá-la, chantageá-la, até chegar a um ponto em que ela decide tomar uma medida ainda mais extrema. 

O filme fechando com o aniversário de um ano do mais novo membro da família, a imagem da família feliz e perfeita, demonstra como o cinema do veterano Geraldo Vietri frequentemente toca nessa tônica das ambientações familiares para logo em seguida dilacerá-la em procura de maiores esclarecimentos até revelar o podre que se esconde por trás das aparências em segredos inconfessáveis. 

Adultério por Amor é muito simples, que se faz complexo justamente por conta de uma condução crua e elegante, com excelentes diálogos e hipnotizante direção de atores, encabeçados por Luiz Carlos de Moraes (Guido) e, especialmente, Selma Egrei (Natália), carregando o filme sob o seu olhar expressivo, que comunica com precisão o estado de espírito de sua personagem. Mas um dos grandes destaques surge na presença de Ewerton de Castro, que, aos 35 anos, encarna perfeitamente o jovem estudante, construindo um “vilão” real, ambíguo e assustador, aparentemente tímido e inofensivo que se transforma num pesadelo para Natália. 

Egrei e Castro haviam trabalhado juntos em A Noite do Desejo, de Fauzi Mansur, e protagonizam em Adultério por Amor alguns belos momentos, como as cenas em que se desenvolve o relacionamento dos dois, culminando numa sequência de sexo que provoca embrulhos no espectador, embalado pelos enquadramentos diretos – e nunca vulgares – das câmeras do diretor de fotografia Antônio B. Thomé, além da música tema de Caion Gadia. É de arrepiar.

Nessa mesma sintonia, Geraldo Vietri voltaria a se reunir com Egrei e Castro em seu filme derradeiro, Sexo, sua Única Arma, colocando novamente à prova as estruturas de uma instituição familiar e que daria uma bela sessão dupla com Adultério por Amor

 

Ronald Perrone é pesquisador de cinema classe B, colabora com o blog O Dia de Fúria (http://diadafuria.wordpress.com/) e edita o blog Dementia 13 (http://demmentia13.blogspot.com/).