Carandiru

Especial A Aids no Cinema Brasileiro

 

Carandiru
Direção: Hector Babenco
Brasil, 2003

Por Edu Jancz

A AIDS (ou síndrome da imunodeficiência adquirida) é identificada no início dos anos 80. Os primeiros portadores, que desenvolveram a doença, tiveram nessa década uma vida muito curta.  Rapidamente, a comunidade médico científica descobriu o que é verdade até hoje, 2011, a Aids não tem cura.

Usar a camisinha, como única forma de prevenção, foi a lição destas décadas e que vale até hoje. Não se enganem: a Aids ainda não tem cura. Atualmente atinge homens e mulheres héteros e pessoas da Melhor Idade. Solução: só a prevenção com a velha e boa camisinha!

Sempre. Sempre. Sempre!

A Aids matou milhares de pessoas. Continua matando sem compaixão. Não existe vacina, analgésico ou medicina alternativa milagrosa. Desde  o início dos anos 90, surgiram os “coquetéis” que, se corretamente administrados, prolongam a vida dos portadores por muitos anos.

Muitos “heróis anônimos” lutam e lutaram para salvar vidas de pessoas com a Aids. Um desses abençoados é o médico Dráuzio Varella. Em 1989, ele iniciou um trabalho voluntário no Carandiru – Casa de Detenção de São Paulo. Objetivo: avaliar a real situação dos presos com o vírus da HIV. E trabalhar com a conscientização para evitar futuros casos.

Até 2002, quando o presídio foi desativado, o Dr. Dráuzio salvou centenas de vidas. Registrou – sem falsos julgamentos, nem moralismo,  como era a vida atrás das grades de um grupo de detentos que chegou a ser de sete mil, dividido em nove pavilhões. E partilhou sua experiência com a sociedade no livro Estação Carandiru, de 1989.

Livro que virou filme com roteiro de Hector Babenco, Fernando Bonassi e Victor Navas.  Coube a Babenco dirigir esta superprodução.  Usando o médico como narrador, Babenco mostra algumas das 70 histórias que Dráuzio viveu, recolheu em livro e que muito lhe ensinaram sobre vida, amizade e medicina.

Como um médico que faz habitualmente na  primeira consulta com seu novo paciente, o doutor pergunta e anota o nome, motivo da estadia no Carandiru e o principal, se usa drogas e tem relações sexuais na cadeia. Um dos entrevistados , o Barba, fala por todos: “quem disser que não tem, está mentindo.” Pergunta seguinte: usa camisinha?  A resposta: “quando tem… “

A princípio, um pouco assustado com a população carcerária, o médico vai ganhando a confiança dos detentos. Vira amigo e confidente de muitos. Não julga, apenas ouve suas histórias. Somente é enfático quando os doentes se recusam a tomar medicamentos.

O doutor Dráuzio também percebeu que o Carandiru era um barril de pólvora, pronto para explodir. Curiosamente, à medida que foi se “aclimatando”, viu que aquela cidade tinha vida própria. Com acerto de contas, hierarquia entre presos, grupos, sofrimentos e privilégios. Nada que impedisse o seu trabalho

No dia 2 de outubro de 2002, após uma tranqüila partida de futebol, eclode um conflito generalizado no pavilhão 9. A polícia de choque, fortemente armada, fecha o local.

O diretor do Carandiru tenta acalmar sua população. Os detentos entregam suas armas, de fabricação caseira. Mas, como era dia de eleição, a tropa de choque não “perdeu a viagem”., Massacrou 111 detentos. O sangue dos presos virou a cor predominante do local. Nenhum membro da tropa foi ferido. Tudo registrado com extrema competência cinematográfica pelo diretor Hector Babenco.

Se minha história aponta um herói para Carandiru, dr. Dráuzio Varella, por salvar centenas de vidas, é justo que eu aponte o nome do seu opositor algoz, o governador Luiz Antonio Fleury Filho, que ordenou a invasão da tropa de choque e tirou a vida de 111 homens.

Um pouco de estatística –  Em 2009, 17 anos depois  do massacre, ainda não tinha sido  concluída a perícia das 392 armas usadas por policiais na ação. Faltavam ser feitos os confrontos balísticos para saber de que arma partiu cada um dos 535 tiros que atingiram os detentos.