Um Certo Capitão Rodrigo

Dossiê de Aniversário: A Musa – Lilian Lemmertz

Um Certo Capitão Rodrigo
Direção: Anselmo Duarte
Brasil, 1971. 

Por Adilson Marcelino

Caudaloso e fundamental retrato da história do Rio Grande do Sul, a trilogia O Tempo e o Vento (1949-1951-1962), de Érico Veríssimo, é uma das obras-primas da literatura brasileira. Em perfeita conjugação de realidade e ficção, o escritor imortalizou personagens memoráveis, como Ana terra, Bibiana, Pedro Terra, Capitão Rodrigo Cambará, Coronel Ricardo Amaral, Bento Amaral. Licurgo, Ismália, Maria valéria. Muitos deles ganharam vida além das páginas dos livros e foram parar no cinema e na televisão. Um dos mais populares é o Capitão Rodrigo Cambará, que acabou tendo publicação separada posteriormente, além de ganhar versão na telinha e na telona.

Em 1971, Anselmo Duarte levou a história do Capitão Rodrigo para o cinema e contou como protagonista com o grande ator Francisco Di Franco, completamente adequado para a composição do personagem. Mulherengo, indomável, aventureiro e libertário, Rodrigo se define bem em um ótimo diálogo com o padre (Alvaro Alves Pereira – ótimo) de Santa Fé, onde finca pouso. Depois do padre falar na bíblia, em Deus, e tudo o mais, ele completa “muitos só se lembram da virgem na hora do trovejo”; no que Rodrigo responde gaiato “padre, tenho que confessar que nas virgens eu penso todos os dias”.

Um Certo Capitão Rodrigo focaliza o personagem chegando a Santa Fé depois de inúmeras batalhas e resolvendo ficar por lá depois que bota os olhos em Bibiana, interpretada pela bela Elza de Castro. Seu comportamento expansivo choca o vilarejo e para permanecer no lugar ele terá que enfrentar a família do Coronel Amaral, manda-chuva do pedaço. Santa Fé será para Rodrigo como o repouso do guerreiro, ainda que o herói não esteja convencido a depor as armas.

Um Certo Capitão Rodrigo não passa perto do vigor dos ótimos O Pagador de Promessas (1962) e Vereda da Salvação (1964), mas é filme que se assiste com interesse. Produzido por William Khouri, na segunda fase da Vera Cruz, o filme conta com a presença de Lilian Lemmertz, musa de Walter Hugo Khouri, irmão de William, que dublou Elza de Castro como Bibiana.

Lilian Lemmertz empresta sua voz inconfundível para essa importante personagem da saga de Érico Veríssimo, acentuando o porte altivo de Elza de Castro. Curiosamente, Lilian voltaria a se encontrar com Bibiana mais uma vez, mas aí interpretando a personagem na minissérie antológica O Tempo e o Vento, de Doc Comparato, produzida pela Rede Globo em 1985, com direção de Paulo José.