Tchau, Amor!

Dossiê Inácio Araújo

Tchau, Amor!
Direção: Jean Garrett
Co-argumento, co-roteiro, edição, montagem: Inácio Araújo
Brasil, 1983

Por Adilson Marcelino

Jean Garrett não é só um dos maiores cineastas da Boca do Lixo, mas do cinema brasileiro. Afinal, ter no currículo filmes como Amadas e Violentadas (1976), Possuídas Pelo Pecado (1976), Excitação (1977), Noite em Chamas (1978), Mulher, Mulher (1979), A Mulher que Inventou o Amor (1980), O Fotógrafo (1981), Karina, Objeto do Prazer (1981), Tchau Amor! (1983) e Estranho Desejo (1983) não é mesmo para muitos.

O paradoxo é que seu nome quase nunca é citado, a não ser por parte da crítica, sobretudo da internet, e pelos amantes do cinema popular e da Boca do Lixo. A obra desse português radicado no Brasil em meados da década de 1960 é prova de que cinema popular não tem que ser sinônimo de produção rastaquera, que sofisticação e inteligência não são atributos apenas de uma parcela de eleitos.

Tchau, Amor! é mais um filme que nos assombra tanto pelo enfoque de sua trama quanto pelo rigor em sua condução. Aqui, Inácio Araújo assina o argumento e o roteiro com o diretor, além de pilotar a edição e a montagem. O filme é protagonizado por Antônio Fagundes e Angelina Muniz, secundados por Selma Egrei, Walter Forster e Denis Derkian.

Na trama, Fagundes é Paulo Reys, radialista das antigas que perde seu lugar por ser considerado ultrapassado demais para seduzir as novas plateias. Com um casamento em que não há mais lugar para paixão, sua vida não anda das melhores, daí seu passatempo é caminhar por uma São Paulo noturna, quase sempre com destino certo para o Viaduto do Chá. Em uma dessas noites encontra Rejane, interpretada por Angelina Muniz, e aí é que sua vida vira mesmo de ponta a cabeça.

Rejane é uma riquinha mimada e liberada, sempre disposta a conseguir tudo o que quer, nem que seja o prazer pelo prazer. Certa noite vê Paulo em pé no parapeito do viaduto e corre até ele a fim de evitar um possível suicídio. Nasce aí uma paixão intensa e conflituosa, e que fará Paulo Reys se segurar nela como se fosse sua derradeira tábua de salvação.

A fotografia do mestre Claudio Portioli ressalta uma São Paulo fria e impiedosa, e desde a primeira cena fixa em close na placa do Viaduto do Chá, percebemos que a metrópole será personagem essencial na trama. Se como cenário de São Paulo S/A (1965), de Luiz Sérgio Person, ela asfixiava o personagem de Walmor Chagas – “recomeçar, recomeçar” -, aqui ela parece querer anunciar que não há mais caminhos possíveis. Resta a Paulo Reys tentar driblar as armadilhas e estender um pouco mais seu tempo até o encontro indesviável de seu destino.

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