Um Mestre do Cotidiano

Dossiê Geraldo Vietri

 

Por Adilson Marcelino

Quando fez Dancin´ Days (1978/79), Gilberto Braga fez sucesso estrondoso de ponta a ponta no país ao estrear no nobre e disputadíssimo horário da novela das oito. Mas ficou esgotado e ao ser escalado para um novo trabalho solicitou ao Boni, então o manda-chuva da Globo, um colaborador para dividir a novela. Boni concordou e disse que não tinha oferecido antes porque ninguém solicitava, mas que achava que era realmente uma tarefa hercúlea para se fazer sozinho. Quem não gostou nada da história foi Janete Clair, a rainha do horário na Globo da época, que reclamou com Gilberto, “Como assim, dividir sua novela com outra pessoa?”. Bom, o resultado é que Água Viva, a novela seguinte, teve a colaboração de Manoel Carlos, e foi outro grande sucesso. Quem conta essa história é o próprio Braga em entrevistas.

Janete Clair não aceitava essa história de dividir parceria, que achava absurda, e só fez isso ao final da vida, em Eu Prometo (1983/84), com a iniciante Glória Perez. Agora, se pensarmos nessas duas formas de trabalhar, sozinho ou em parceria, o espanto fica maior ainda quando se pensa em Geraldo Vietri. Sim, porque o veterano autor não só escrevia suas novelas, como também dirigia e editava. Pode uma coisa dessa? Pode, pois esteve à frente de dezenas de novelas, algumas delas revolucionárias.

Quais? Antonio Maria (1968/69) e Nino, O Italianinho (1969/70), que co-escreveu com Walter Negrão e também dirigiu na Tupi. A partir daí, Vietri tornou-se, para muitos, quem melhor escrevia sobre o cotidiano e criava tipos que se encontrava facilmente nas ruas. Aqui mesmo nas entrevistas para a Zingu!, as atrizes Arlete Montenegro, Elisabeth Hartmann e Márcia Maria ressaltam esse domínio do autor. Geraldo Vietri assinou também outros momentos luminosos na Tupi, como A Fábrica (1971/72) e Vitória Bonelli (1972/73), que escreveu e dirigiu sozinho – essa última é destacada como obra-prima pelo fabuloso site Teledramaturgia, de Nilson Xavier. E para quem assistiu Berta Zemmel lutando para manter sua família unida, com filhos que tinham nomes bíblicos – Tiago –Tony Ramos, Mateus – Carlos Alberto Ricelli, Lucas – Flamíneo Fávero. E Verônica – Anamaria Dias – não resta nenhuma dúvida de que esse foi realmente um momento especial na nossa teledramaturgia.

Fiel a seu elenco, foi em grande parte graças ao talento de Geraldo Vietri que muitos atores e atrizes se destacaram na telinha. E eles são muitos: Sérgio Cardoso, Juca de Oliveira, Aracy Balabanian, Dina Lisboa, Laura Cardoso, Geórgia Gomide, Arlete Montenegro, Márcia Maria, Jonas Mello, Etty Fraser, Chico de Assis, Tony Ramos, Paulo Figueiredo, Anamaria Dias, Marcos Plonka, Flamínio Fávero.

Em sua carreira cinematográfica, também foi fiel ao seu elenco da televisão. Daí reservou protagonistas ou personagens destacados para atores e atrizes como Adriano Reys e Elaine Cristina, e grande parte de nomes aqui já elencados.

Infelizmente, boa parte da sua obra no cinema está indisponível há tempos, e cada vez que o Canal Brasil resgata um título dá quase vontade de acender uma vela em agradecimento. Cinco desses filmes, que foram lançados em VHS ou que estão sendo exibidos no Canal Brasil, fazem parte desse dossiê de resgate e homenagem a Geraldo Vietri: Senhora (1976); Tiradentes – O Mártir da Independência (1977); Adultério Por Amor (1978); Os Imorais (1979); e Sexo, Sua Única Arma (1979).

Rezamos de pés juntos para que seus outros oitos títulos sejam resgatados, para que sua obra na telona seja conhecida em sua totalidade. Pois se no cinema, Geraldo Vietri tivesse realizado apenas Os Imorais, seu nome já estaria garantido em caixa alta na história do cinema brasileiro. Poucas vezes, naqueles anos 1970, a temática homossexual recebeu tratamento tão interessante e respeitoso como nesse filme. E vamos combinar que para a época, e mesmo para os dias de hoje, não é pouco.

Geraldo Vietri nasceu em São Paulo, em 1930. É um dos mais importantes autores de telenovelas, sendo responsável por boa parte de popularidade que o gênero alcançou no país.

Começou a carreira no cinema, escrevendo e dirigindo Custa Pouco a Felicidade, em 1952. Para as telas esteve à frente de 13 títulos, mas foi na televisão que alcançou sucesso extraordinário e se tornou sinônimo de novelas com forte acento de gente como a gente, retratando o cotidiano como poucos, e um dos destaques da TV Tupi.

Geraldo Vietri faleceu em 1º de agosto de 1996.

Salve PARA SEMPRE Geraldo Vietri!