O Flagrante

Dossiê Carnaval no Cinema Brasileiro

O Flagrante
Direção: Reginaldo Faria
Brasil, 1975

Por William Alves

Luís Sérgio, Tavico, Paulão, Marquinhos e Leopoldo são cinco amigos quase quarentões, que saem para o Carnaval carioca com o único intento de chutar o balde o mais longe possível. São todos casados, alguns com filhos, mas isso nunca foi problema. Os cinco incorporam aquele tipo de comportamento voluntariamente alienado que, casualmente, traz más notícias posteriormente. Afinal, como diz Tavico logo no começo: “Agora eu vou aproveitar o Carnavaaaaaaaaaal”.

O Carnaval é um sucesso. Porém, uma caixa de fósforos personalizada de motel, encontrada na bolsa da esposa de Paulão pelo próprio, acaba por tornar ainda mais insuportável a ressaca de todos os cinco aventureiros. Paulão tira logo a conclusão de que está sendo impiedosamente chifrado, e seus amigos armam um esquema intrincado para flagrar a esposa do amigo em pleno adultério.

Como a ação transcorre entre homens, a conclusão óbvia – de que eles são os adúlteros em primeiro lugar e que não deveriam estar muito surpresos quando uma das mulheres resolve também freqüentar outra cama – fica meio obscurecida.

A vinheta de um sambinha acelerado permeia todo o filme, mesmo depois dos festejos de Carnaval, o que prova intenção do diretor (Reginaldo Faria, que também interpreta Paulão) de correlacionar o adultério como uma extensão dos feitos estúpidos que os indivíduos cometem nos feriados prolongados. Não importa muito que a tal caixa de fósforos tenha sido encontrada antes das festas: pela televisão, Marlene vê Paulão se esbaldando nos braços de mulatas mais desinibidas.

Grande Otelo faz uma aparição, como o funcionário que revela para os amigos de Paulão que a sua esposa é uma “grande piranha”. A cena de Tavico (interpretado por Antonio Pedro) e Otelo se embebedando no metrô é o ápice desse O Flagrante, que se sustenta num híbrido confuso de comédia festeira com um drama piegas que pretende discussões mais “adultas”, como o perdão conjugal. É sintomático, pois, que as cenas de bebedeira e niilismo sejam as melhores do longa.