Inventário Grandes Musas da Boca

Nadyr Fernandes 

Por Adilson Marcelino

Nadyr Fernandes (também grafada Nadir em alguns filmes) atuou em teatro, televisão e cinema, em São Paulo e no Rio de Janeiro. A maior parte de seus longas foi feita na Boca do Lixo, onde se tornou uma de suas musas.

Nadyr Fernandes nasceu em São Paulo, capital, no dia 27 de fevereiro de 1937. Coroada Miss Cinelândia Paulista, inicia carreira no cinema fazendo pontas na década de 50 – Escravos do Amor das Amazonas (1957), uma produção americana filmada no Amazonas e dirigida por Curt Siodmak, é um desses primeiros trabalhos. Mas é nos anos 60 que começa a ter personagens expressivos, como a atriz mineira Helena no clássico São Paulo S/A (1965), de Luis Sérgio Person, e um papel importante como Eliana em O Anjo Assassino (1967), filme policial dirigido por Dionísio Azevedo e baseado na telenovela A Outra Face de Anita, de Ivani Ribeiro, e produzido por Oswaldo Massaini.

Nessa mesma época, Nadyr começa a carreira em novelas. Atua em O Grande Segredo, de Marcos Rey, exibida na TV Excelsior em 1967, no papel de Sandra. Nos anos seguintes, atua em várias emissoras, como na Record em As Pupilas do Senhor Reitor (1970/71), de Lauro César Muniz; na Tupi em A Fábrica (1971/72), de Geraldo Vietri, e A Rosa dos Ventos (1973), de Teixeira Filho; e na Globo em Pecado Capital (1975/76), de Janete Clair. No teatro, atua em peças como Circulo de Champagne, de Abílio Pereira de Almeida.

Nadyr Fernandes está na comédia 2000 Anos de Confusão (1970), um dos primeiros filmes de um dos mais importantes cineastas da Boca, Fauzi Mansur, e protagonizado pelos irmãos Dedé e Dino Santana. A seguir, atua na produção carioca/paulista Balada dos Infiéis (1970), de Geraldo Santos Pereira, em que tem papel de destaque como a rica Lúcia Bueno Feitosa, na produção carioca O Enterro da Cafetina (1971), de Alberto Pieralisi, e na paulista Cordélia, Cordélia (1971), de Rodolfo Nanni.

Nadyr Fernandes volta a atuar na Boca em A Virgem (1973), de Dionísio Azevedo, como a personagem Tina. Nesse belo filme, ela integra uma turma de jovens amigos que praticam o amor livre. Como entre eles tem uma virgem, interpretada por Nádia Lippi, os rapazes rifam sua virgindade no palitinho com o consentimento do seu namorado. Nadyr Fernandes está exuberante, e a cena em que conversa com seu sexo poderia ser risível, mas ela o faz com uma naturalidade e malícia desconcertantes. Com Edward Freund, atua no faroeste Trindad… É Meu Nome (1973), e com Oswaldo de Oliveira na comédia Os Garotos Virgens de Ipanema (1973).

A seguir, Nadyr se encontra com dois nomes fundamentais da Boca do Lixo: Ody Fraga, no drama Adultério – As Regras do Jogo (1974); e J. Avellar (pseudônimo de José Mojica Marins), na comédia A Virgem e o Machão (1974). No filme de Marins, ela está ótima como Maria Sorvete, a dona de casa que vira prostituta, mas que só aceita clientes que lhe trazem um sorvete no pauzinho. A fila na porta de seu quarto só cresce, mas somente o machão do título vai lhe causar tremores e entrega.

Depois disso, participa de uma das mais memoráveis, anárquicas e deliciosas comédias, Kung Fu Contra as Bonecas (1976), uma produção de Alfredo Palácios e Antonio Pólo Galante, dirigida por Adriano Stuart. Outra comédia em que atua é O Incrível Seguro de Castidade (1975), de Roberto Mauro.

Um encontro importante para Nadyr Fernandes será com o ator e diretor Egídio Eccio. Sob sua direção, atua em O Leito da Mulher Amada (1974), em que tem uma de suas mais exaltadas interpretações, e na comédia protagonizada por Agildo Ribeiro, O Sexualista (1975).

De volta ao Rio de Janeiro, a atriz está em …E as Pílulas Falharam (1976), de Carlos Alberto de Almeida. Mas logo, em São Paulo, está na produção em episódios de Palácios/Galante Sabendo Usar não vai Faltar – Francisco Ramalho Jr, Sidnei Paiva Lopes e Adriano Stuart são os diretores.

Mas se Nadyr Fernandes não tivesse feito nenhum filme a não ser Vítimas do Prazer – Snuff (1977), de Claúdio Cunha, seu nome já estaria para sempre na história da Boca do Lixo e do cinema brasileiro. Com roteiro de Cunha e Carlos Reichenbach, a trama de Snuff é sobre filmes pornográficos, em que as atrizes são supostamente estupradas e assassinadas em cena. No filme, Nadyr Fernandes é Tati Ibanez, uma grande estrela, que por estar em decadência, aceita participar de um filme pornográfico sem saber das reais intenções dos realizadores. A atriz está maravilhosa em cena, em um elenco sensacional, formado pelos atores como Carlos Vereza, Canarinho, Rossana Ghessa, Hugo Bidet, Fernando Reski. Snuff é um filmaço de Claúdio Cunha, um dos mais talentosos cineastas brasileiros.

Por fim, a atriz está no episódio de Victor di Mello em Os Melhores Momentos da Pornochanchada, lançado em 1978.

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Pitaco do diretor:

Nadyr Fernandes foi uma das melhores profissionais com quem tive oportunidade de trabalhar. Trabalhamos juntos no Vitimas do Prazer – Snuff, tendo ela interpretando um personagem bem parecido consigo mesma, Tati Ibanez, rainha dos filmes de cangaço, formando um par romântico com o Carlos Vereza. Sua interpretação é um dos pontos altos do filme. Sempre alegre, descontraída, atenta à direção. Sem dúvida nenhuma uma profissional exemplar.

Claudio Cunha dirigiu Nadyr Fernandes em Vítimas do Prazer – Snuff (1977)

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Filmografia:

Escravos do Amor das Amazonas (1957), de Curt Siodmak;
São Paulo S/A (1965), de Luiz Sérgio Person;
Três Histórias de Amor (1966), de Alberto D´Aversa;
O Anjo Assassino (1967), de Dionísio Azevedo;
2000 Anos de Confusão (1970), de Fauzi Mansur;
Balada do Infiéis (1970), de Geraldo Santos Pereira;
O Enterro da Cafetina (1971), de Alberto Pieralisi;
Cordélia, Cordélia (1971), de Rodolfo Nanni;
A Virgem (1973), de Dionísio Azevedo;
Trindad… É Meu Nome (1973), de Edward Freund;
Os Garotos Virgens de Ipanema (1973), de Oswaldo de Oliveira;
Adultério – As Regras do Jogo (1974), de Ody Fraga;
A Virgem e o Machão (1974), de J. Avellar (pseudônimo de José Mojica Marins);
Kung Fu Contra as Bonecas (1976), de Adriano Stuart;
O Incrível Seguro de Castidade (1975), de Roberto Mauro;
O Leito da Mulher Amada (1974), de Egidio Éccio;
O Sexualista (1975), de Egidio Éccio;
…E as Pílulas Falharam (1976), de Carlos Alberto de Almeida;
Sabendo Usar não vai Faltar – Francisco Ramalho Jr, Sidnei Paiva Lopes e Adriano Stuart;
Vítimas do Prazer – Snuff (1977), de Claúdio Cunha;
Os Melhores Momentos da Pornochanchada (1978), de Victor di Mello.

Fontes:
Livros: Dicionário de Filmes Brasileiros – Longa Metragem (Antonio Leão da Silva Neto); Cinema da Boca – Dicionário de Diretores (Alfredo Sternheim)
Revista: Cinema em Close-UP
Sites: Mulheres do Cinema Brasileiro, IMDb