A Família Lero-Lero

Dossiê Vera Cruz

A Família Lero-Lero
Direção: Alberto Pieralisi
Brasil, 1953.

Por Aílton Monteiro, especialmente para a Zingu!*

Walter D’Ávila é mais lembrado hoje como Seu Baltazar da Rocha, da Escolinha do Professor Raimundo. O que pouca gente sabe é que o personagem nasceu numa versão para o rádio da Escolinha, na década de 50. Chico Anysio fez, portanto, um serviço de resgate de grandes humoristas da história do cinema, da televisão e do rádio brasileiro.

Walter D’Ávila já estava bem velhinho na encarnação televisiva do programa; como também estavam vários do elenco do programa. Na televisão, D’Ávila alcançou sucesso com a Praça da Alegria da TV Record e, em seguida, migrou para a Globo, onde trabalhou em diversos programas humorísticos, como os de Chico Anysio e de Jô Soares. Durante esse período, o humor que se fazia na televisão era bem melhor.

A filmografia de D’Ávila no cinema brasileiro é também bem generosa e remonta os anos 1930. A Família Lero-Lero (1953) é uma comédia produzida na época da Vera Cruz. Os detratores da Companhia, os que dizem que ela americanizava o nosso cinema, podem até encontrar motivos para isso, afinal, há muitas semelhanças com o que se produzia em Hollywood – como o tipo de música incidental utilizada e o timing das comédias -, mas há também traços da brasilidade, como na sequência das crianças cantando, que não deixa de ser muito estranha se a virmos com os olhos de hoje. O hit Lata d’água na cabeça é frequentemente cantado, principalmente pela empregada da família. Independente de se gostar ou não do longa, trata-se de um importante registro do comportamento social da época. E, como o cinema brasileiro pré-Cinema Novo é pouco visto e valorizado até pela crítica, é importante resgatar os filmes dessa época. Que, no caso de A Família Lero-Lero, vai além de uma atividade de estudo, já que o filme é muito divertido.

Dirigido pelo italiano Alberto Pieralisi, que realizou desde filmes de Procópio Ferreira até exemplares da pornochanchada dos anos 70, A Família Lero-Lero mostra, com muito bom humor, a história de um pai de família que sofre com os filhos que não querem trabalhar e sonham em ser artistas ou atletas famosos. O começo do filme já mostra que nem as crianças da sua rua o respeitam, como se pode ver logo na sequência de abertura. Um de seus filhos usa os seus suspensórios para fazer ginástica e o mais velho se recusa a liberar o banheiro para treinar canto. Para completar, a mulher só o trata bem na frente dos outros. O trabalho, como funcionário de um banco, também não lhe agrada. Chega um momento em que ele não aguenta e resolve cometer uma loucura.

O filme tem uma narrativa ágil e divertida, com vários momentos bem engraçados, como quando o amigo lhe tira da cadeia e ele fica com raiva, pois prefere a prisão à família. Uma prova de que o filme envelheceu bem. Talvez seja uma das melhores produções da Vera Cruz.

*Ailton Monteiro é cinéfilo de carteirinha e editor do blog Diário de Um Cinéfilo, premiado com o Quepe do Comodoro de melhor blog em 2004.