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Cinema de Bordas volta ao Itaú Cultural com obras de brasileiros anônimos que improvisam para fazer filmes
Segunda edição da mostra Cinema de Bordas do Itaú Cultural traz 13 filmes inéditos assinados por diretores desconhecidos espalhados por todo o país, três dos quais vêm ao instituto para um bate papo com o público; produzidos sem recursos e com equipamento precário estes filmes demonstram o talento e a garra de brasileiros apaixonados por cinema
De 20 a 25 de abril, o Itaú Cultural apresenta a segunda edição da mostra Cinema de Bordas, que no ano passado atraiu mais de 800 pessoas. Trata-se de 13 filmes inéditos, realizados por anônimos de todo o país apaixonados por cinema. Sem orçamento, nem técnica e com equipamento rudimentar, eles contam com vizinhos, parentes e amigos para realizar o sonho de fazer filmes. Desta vez o ciclo, que volta a ter a curadoria de Bernadette Lyra, doutora em cinema pela Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP) e de Gelson Santana, doutor e mestre em Ciências da Comunicação, também da ECA, conta com a presença de três destes diretores para um bate papo em que irão discutir com o publico o desafio de fazer cinema ainda que sem qualquer recurso financeiro.
Um deles é Rodrigo Aragão, capixaba da pequena aldeia de pescadores de Perocão, da cidade de Guarapari no Espírito Santo. Outro, é o paulista Joel Caetano. O terceiro é uma mulher, a também paulistana Liz Marins. Os dois diretores, que também apresentaram filmes na edição passada, costumam trabalhar com a mesma equipe e assinam filmes de terror com muito sangue e muitos sustos.
Neste ano, Aragão mostra seu curta-metragem Chupa Cabra – na edição passada ele havia apresentado o longa-metragem Mangue Negro, sobre zumbis canibais. Chupa Cabras, filmado em 2005, foi a primeira experiência mais séria de Rodrigo como diretor e serviu de inspiração para seu próximo longa metragem que está sendo gravado e deve estrear no começo do ano que vem. “Com a mostra no Itaú Cultural, muita gente descobre que é possível fazer muito com pouco, e acabam colocando a mão na massa também. Estou muito animado porque desta vez poderei acompanhar tudo de perto. É uma oportunidade única de conhecer pérolas das bordas”, comenta.
Com 32 anos, Caetano já dirigiu 11 filmes e fundou, com a sua esposa-produtora-atriz e um amigo-ator-diretor de fotografia, a Recurso Zero Produções. Inspirado pelos filmes de Sessão da Tarde exibidos na televisão dos anos 80 e a estética dos quadrinhos, ele apresenta o filme de terror Gato – no ano passado, havia apresentado O Assassinato da Mulher Mental. “Com os conhecimentos adquiridos nos filmes anteriores, acredito que conseguimos um salto um pouco maior em relação ao roteiro, às atuações e à técnica. É claro que ainda existem aspectos a serem melhorados, mas é interessante notar que em cada um de seus filmes a Recurso Zero Produções deu um passo a mais em relação à qualidade e à competência em contar histórias que envolvam o público, que pra nós, é quem mais importa nesse processo todo”, explica.
Liz Marins, a terceira diretora a participar do bate papo com o público da mostra, exibe o curta-metragem Aparências, sobre uma garota que por causa dos preconceitos que carrega acaba passando por experiências assustadoras. Mas não são apenas filmes de terror que aparecem entre os selecionados pelos curadores. Em Cyberdoom, Igor Simões Alonso transforma sua cidade natal – São Paulo – em um cenário futurista típico de filmes de ficção cientifica e coloca seus habitantes numa guerra civil pelo direito à água.
Outro gênero que aparece entre os filmes é a comédia representada pelo filme Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-feira 13 do Verão Passado. Nele Felipe Guerra, da pequena cidade de Carlos Barbosa no Rio Grande do Sul, satiriza filmes de serial killers dos anos 90. Já em O Show Variado, Simião Martiniano, de Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, parodia os filmes de artes marciais.
Segunda mão dos gêneros cinematográficos
Apesar da variedade, os filmes reunidos na mostra são exemplos de um tipo de cinema bem específico que é pesquisado desde 2006 pelos seus curadores e um grupo de estudos com intelectuais de todo o Brasil. Periodicamente, eles discutem o assunto e promovem debates na Socine (Sociedade de Estudos de Cinema e Audiovisual) e na Compós (Associação de Programas de Pós-Graduação em Comunicação).
“Todas as produções de bordas, embora sejam particulares e diferentes, têm como característica comum o uso feito em segunda mão dos gêneros cinematográficos”, explica Bernadette. De acordo com ela, são filmes que usam e abusam, sem nenhum medo ou preconceito, de imagens, narrativas, sons e situações já vistas em outros filmes de horror, de ficção científica, de melodramas, de comédias, de velhas fitas de faroeste. A curadora observa, ainda, que dessas realizações de bordas, nenhuma tem pretensões de ser ‘vanguarda’ nem ‘original’.
“Por isso resultam tão ricas e interessantes: elas fazem um apanhado de tudo que já foi exibido, misturam e mandam ver”, diz Bernadette para completar: “Além disso, são um espelho da performance da própria cultura brasileira. O detalhe é que, como os filmes são produzidos nas mais diversas regiões do país, com pessoas de comunidades, usos, histórias e sotaques particularizados de acordo com os lugares em que se realizam, cada uma dessas produções de bordas se torna o exemplar único de uma espécie de ‘regionalismo cinematográfico’.”
Na abertura do evento para convidados, no dia 20, às 20h, haverá uma palestra com os curadores seguida de sessão do “Programa Especial” com dois filmes que serão exibidos exclusivamente neste dia. Vlad, de Pedro Daldegan de Campinas (SP), em que um garoto depois de ter uma estranha premonição enfrenta um grande perigo. E Ninguém Deve Morrer, de Petter Baiestorf, de Palmitos (SC), um faroeste musical com direito a ex-bandido que vira mocinho, uma mulher, um boi de estimação e um grupo de cineastas assassinos de aluguel. Depois da palestra e da exibição dos filmes, aproximadamente às 21h, haverá um coquetel de abertura.
PROGRAMAÇÃO
20 de abril, terça-feira
Abertura da mostra
20h
Palestra com curadores Bernadette Lyra e Gelson Santana e Programa Especial com a exibição dos filmes:
Vlad, de Pedro Daldegan (1989, 5 min.) Campinas (SP)
Um garoto tem uma visão de si próprio na floresta, amarrado em uma árvore, num estado beirando a morte, e então encontra Vlad, que transformará sua premonição em realidade.
Ninguém deve morrer, de Petter Baiestorf (2009, 30 min.), Palmitos (SC)
O pistoleiro Ninguém decide largar tudo o que sempre considerou importante para mudar de vida: sua mulher amada, um grupo de amigos cineastas assassinos de aluguel e seu boi de estimação. No entanto, antes de se redimir, precisará enfrentar a fúria de seus antigos comparsas em um faroeste musical que reúne o maior elenco de astros do underground brasileiro jamais filmado.
21h
Coquetel de abertura
21 de abril, quarta-feira
16h
Gato, de Joel Caetano (2009, 23 min.), São Paulo (SP)
Um conto de terror e suspense sobre um homem, um gato e muito sangue.
A bruxa do cemitério 2, de Semi Salomão, 2009, 83 min, Apucarana/PR
“Grande Urso’’ o índio protetor das matas adverte para nunca pisarem em solo amaldiçoado. Dante(Semi Salomão), o primogênito de uma família do campo sofre de distúrbios mentais e psicológicos. Ele é manipulado e atormentado por uma bruxa que no passado foi morta injustamente para atrair pessoas ao vale onde serão vitimas de forças sobrenaturais.
18h
Bate papo com diretor Rodrigo Aragão e curador
18h30
Chupa-cabras, de Rodrigo Aragão (2005, 12 min.), Guarapari (ES)Uma vitima de sequestro se vê perdida em uma floresta e logo descobre que não está sozinho, o Chupa cabras está a espreita.
Morgue story, sangue, baiacu e quadrinhos , de Paulo Biscaia Filho (2009, 78 min.), Curitiba (PR)
Ana Argento, uma quadrinista de sucesso frustrada em seus relacionamentos, se encontra com dois homens solitários de vida curiosa. Tom é um vendedor de seguros de vida que sofre de catalepsia. Daniel Torres é um médico legista sociopata e estuprador que tem um método de crime peculiar: envenena suas vítimas com uma poção feita à base de baiacu que induz a catalepsia. A vítima é considerada morta e enviada para o necrotério, mas quando acorda se depara com o legista esperando para estuprá-la e sufocá-la até a morte. Os planos começam a dar errado quando Tom também acorda no necrotério.
22 de abril, quinta-feira
18h
Doutor Ekard, de Marcos Bertoni (2002, 18 min.), São Paulo (SP)Palestra sobre parapsicologia, hipnose e auto-ajuda é ministrada com fins duvidosos.
Coronel Cabelinho vs Grajaú Soldiaz, de Pepa Filmes (2001, 80 min.), Rio de Janeiro (RJ)
O filho de um diplomata foi assassinado! A imprensa cobra resultados e a polícia está acuada! A única solução é trazer de volta para a cidade o policial mais HARDCORE dos tempos da ditadura militar, CORONEL CABELINHO; ele e seus amigos vão empregar toda a força necessária para mandar para a vala mais funda o responsável por mais esse escândalo nacional. Mas os calejados policiais não vão conseguir isso facilmente, pois os assassinos são do GRAJAÚ SOLDIAZ, a gangue de rua mais sinistra do RJ.
20h
Bate papo com diretora Liz Marins e curador
20h30
Aparências, de Liz Marins (2006, 8 min.), São Paulo (SP)
A história de uma bela garota loura e preconceituosa, que à noite voltando da escola, pela crença em uma série de errôneos julgamentos impostos pela sociedade, passa por sinistras experiências.
Entrei em pânico ao saber o que vocês fizeram na sexta-feira 13 do verão passado [Recut], de Felipe M. Guerra (2001-2009, 90 min.), Carlos Barbosa (RS)
Sátira/homenagem aos filmes de horror adolescentes dos anos 1990 que, por sua vez, resgatavam um subgênero do horror muito popular nos anos 1980: o slasher movie, que são filmes caracterizadas pela presença de psicopatas do sexo masculino que matam adolescentes em série.
23 de abril, sexta-feira
18h
O massacre da espada elétrica, de Merielli Campi, Lucio Gaigher, Rodolfo Arrivabene, Gerson Castilho, (2008, 15 min.), Guarapari(ES)
Muhamed Aki Haul é um garoto palestino gordo e desajeitado que sofre bullying na escola. No Brasil, onde mora e estuda, ele é isolado de todas as formas por seus colegas e se transforma em objeto de piada e chacota entre eles. O “Pequeno Mamute” resolve então se vingar das humilhações diárias que vem sofrendo. Para tanto, recebe ajuda do seu guru, “Mestre Coruja”, na forma de uma espada elétrica chamada Cheeewbacca.
O Show Variado, de Simião Martiniano (2008, 40 min.), Jaboatão dos Guararapes(PE)
Uma série de esquetes que envolvem comédia e artes marciais. Um doutor, o empregado e o delegado maluco são alguns dos personagens do filme.
Cyberdoom , de Igor Simões Alonso (2009, 40min.), São Paulo(SP)
São Paulo, 2054. O planeta passa por escassez de água, o sol se tornou uma ameaça e o mundo está repleto de novas doenças. Apesar de desenvolvido tecnologicamente a humanidade não consegue combater certas doenças e a destruição da natureza chegou a um ponto critico. A cidade foi dividia em diversos bairros fechados, com a desculpa do risco de doenças e para controlar melhor a população. Uma gangue conhecida como Os Coletores, busca um antídoto contra os diversos vírus, a Bioágua. Que é vendida a preços exorbitantes apenas para a alta elite por um monopólio de empresas chamado de “Conglomerado”, que vive explorando a miséria biológica por todo país. Uma guerra se anuncia nas ruas decadentes da cidade enquanto a resistência busca o maior de todos os fins: a sobrevivência.
20h
Bate papo com diretor Joel Caetano e curador
20h30
Gato, de Joel Caetano (2009, 23 min.), São Paulo (SP)
A bruxa do cemitério 2, de Semi Salomão, 2009, 83 min, Apucarana/PR
24 de abril, sábado
16h
Chupa-cabras, de Rodrigo Aragão (2005, 12 min.), Guarapari (ES)
Morgue story, sangue, baiacu e quadrinhos , de Paulo Biscaia Filho (2009, 78 min.), Curitiba (PR)
18h
Doutor Ekard, de Marcos Bertoni (2002, 18 min.), São Paulo (SP)
Coronel Cabelinho vs Grajaú Soldiaz, de Pepa Filmes (2001, 80 min.), Rio de Janeiro (RJ)
25 de abril, domingo
16h
Aparências, de Liz Marins (2006, 8 min.), São Paulo (SP)
Entrei em pânico ao saber o que vocês fizeram na sexta-feira 13 do verão passado [Recut], de Felipe M. Guerra (2001-2009, 90 min.), Carlos Barbosa (RS)
18h
O massacre da espada elétrica, de Merielli Campi, Lucio Gaigher, Rodolfo Arrivabene, Gerson Castilho, (2008, 15 min.), Guarapari(ES)
O Show Variado, de Simião Martiniano (2008, 40 min.), Jaboatão dos Guararapes (PE)
Cyberdoom, de Igor Simões Alonso (2009, 40min.), São Paulo (SP)
SERVIÇO
Mostra Cinema de Bordas
De 20 a 25 abril, terça-feira a domingo
Sala Itaú Cultural (247 lugares)
Censura: 14 anos
Entrada franca (ingressos distribuídos com meia hora de antecedência)
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô
Fones: 11. 2168-1776/1777
www.itaucultural.org.br
atendimento@itaucultural.org.br
Na Zingu!, já fizemos dois dossiês sobre cinema de Bordas, que podem ser vistos aqui e aqui. Neles, você encontra entrevistas com a curadora Bernadette Lyra e os cineastas Petter Baiestorf, Felipe M. Guerra, Joel Caetano, Rodrigo Aragão e Marcos Bertoni, além de resenhas de vários filmes.
Amigos da Zingu: quando a edição nova entra no ar? Obrigado
Olá Reinaldo.
Deve entrar nessa semana!
abs.