Depoimento de Alfredo Sternheim

Dossiê Carlos Reichenbach

O Cinema da Boca morreu no final dos anos 80 e assim “morreram” artisticamente a maioria de seus cineastas. Eu me incluo nessa lista de “mortos”. Quase ninguém soube se adaptar às novas regras, a mudança na situação. Mas Carlos Reichenbach é um dos sobreviventes, talvez o maior de todos. Inteligente e perseverante, desde o começo dos anos de 1970 até 2007, sob contextos diferenciados de produção (antes, o cinema se auto-sustentava, depois passou a depender do mecenato oficial), ele foi avante em sua obra sempre autoral. Com longas profundos e refinados, evitou fazer concessões, e dessa maneira, acabou ganhando o justo respeito de todos, inclusive daqueles que torciam o nariz para o cinema da Boca. Bravo.

No plano pessoal, Carlão é um ser de imensa cultura que jamais esnobou os outros, sempre manteve convivência amável com todos os que labutam no cinema, desde um eletricista até uma estrela global. Como notável diretor de fotografia, atuou com outros diretores. Eu tive a felicidade de contar com ele em dois longas: As Prostituas do Dr. Alberto (um título infeliz e injusto, nada a ver com a trama, dado pelo distribuidor e co-produtor) e o elegante Amor de Perversão, um melodrama cujos produtores tinham, inicialmente, convidado Carlão para dirigir. Mas ele declinou – a história escrita por um dos produtores não batia com ele – e me indicou. Sou-lhe grato. Além de contar com estimulante companheirismo, tive naturalmente uma fotografia extraordinária. Bravo.

Alfredo Sternheim é cineasta, jornalista e crítico de cinema, e trabalhou com Carlão em dois longas, As Prostituas do Dr. Alberto e Amor de Perversão