Já virou quase um clichê dizer que a montagem é o coração de um filme. Alguns concordam, outros não. Não quanto ao clichê, mas quanto à afirmação em si. Para alguns, o que conta mesmo é o diretor, que seria o verdadeiro autor de um filme. Mesmo que o fato de cinema ser uma arte em equipe seja de conhecimento de todos. Fernanda Montenegro, quando em uma de suas entrevistas para o lançamento do filme O Outro Lado da Rua (2003), de Marcos Bernstein, foi taxativa: no cinema o ator não tem controle de nada, quem manda é o diretor e o montador.
Se no cinema o que vale mais não é a história em si, mas a forma de contá-la, é fato que a arte da direção e da montagem caminhem juntas, e, não raro, o trabalho da segunda é acompanhada literalmente de perto pela primeira. O cinema brasileiro tem ótimos montadores, sejam homens ou mulheres, com trajetórias importantes e longínquas. Mas por ficarem totalmente nos bastidores, ainda que o resultado do trabalho esteja na tela de ponta a ponta, muitos deles não são conhecidos, isso quando não são sequer citados ou lembrados pelo público.
Nesta edição de maio, e também na próxima, de junho, a Zingu! vai apresentar uma série formada por dois dossiês sobre montadores levado a cabo por Matheus Trunk, que idealizou o projeto especialmente para trazer à luz esses personagens incríveis dessa arte essencial. Quem abre a série é o veterano Luiz Elias, montador amado por seus pares e que esteve à frente da série O Vigilante Rodoviário, e de filmes essenciais de cineastas como Roberto Santos, José Mojica Marins, Walter Hugo Khouri e Hector Babenco.
Aqui no Dossiê, o leitor terá a possibilidade de conhecer a trajetória de Luiz Elias a partir de uma longa entrevista realizada por Matheus Trunk, além de depoimentos, entrevista com Mojica e ainda filmografia.
Esta edição de maio reservou espaço também para outra personalidade importantíssima do cinema brasileiro, mas nem sempre reconhecida: a atriz Liana Duval. Falecida no mês passado, no dia 23 de março, Liana Duval atuou em mais de cinquenta filmes, passando por vários ciclos do cinema brasileiro e sendo dirigida por diretores de várias escolas.
Liana Duval não tinha nenhum tipo de preconceito, podia tanto estrelar um filme, como O Pão que o Diabo Amassou, de Maria Basaglia, em que protagoniza ao lado de Jayme Costa, Elizabeth Henreid, Carlos Zara, Ítalo Rossi e Egydio Éccio, como fazer uma simples ponta, como em A Dama do Cine Shanghay, de Guilherme de Almeida Prado. E aí podia marcar presença em filmes completamente diversos, seja em produções para o talento de Mazzaroppi, como Nadando em Dinheiro; do Cinema Marginal, como O Pornógrafo, de João Callegaro; ou nas produções características da Boca do Lixo como Joelma 23º Andar, de Clery Cunha, e no episódio O Gafanhoto, de John Doo, do longa Pornô!. Todos eles resenhados nesta edição.
A Zingu! faz homenagem à Liana Duval com um especial em que são destacados dez filmes de sua longa carreira, mais texto perfil e filmografia.
Há também, claro, as colunas tradicionais, com espaço para o arrasa-quarteirão Rio, de Carlos Saldanha; uma reflexão sobre o cinema brasileiro; a trilha inesquecível de Os Saltimbancos Trapalhões; o talento de Ivan Cardoso em O Segredo da Múmia; e as musas Eva Nil, Valéria Vidal e Rejane Arruda.
Tenham todos uma ótima leitura!
Adilson Marcelino
Editor-Chefe da Zingu!