Inventário Grandes Musas da Boca

Fernanda de Jesus

Por Adilson Marcelino

 

Não foi apenas de diferentes regiões do Brasil que a Boca do Lixo importou suas musas não. Algumas delas nem aqui nasceram. Como a eterna Lolita Fernanda de Jesus.

A bela Fernanda de Jesus nasceu em Viseu, Portugal, em 1952. Mas seis anos depois já se radicava no Brasil com a família, que se instalou no Rio de Janeiro.

Foi durante a escola que a verve artística se manifestou, fazendo teatro amador. Mas o passaporte para a carreira artística profissional foi mesmo a capa que protagonizou para a Ele e Ela, revista importante da época.

O cineasta mineiro, também radicado na cidade maravilhosa, Braz Chediak botou os olhos na guria e não teve dúvidas: escalou-a para Eu Dou o Que ela Gosta. O filme, lançado com sucesso em 1975, colocou Fernanda ao lado de feras como José Lewgoy, Fernando Reski, Ênio Gonçalves e Sérgio Hingst.

Se uma capa levou a atriz para o cinema carioca, o trailer da produção carimbou seu segundo passaporte: dessa vez para a Boca do Lixo.

Maior galã do pedaço e produtor que fundara a recente Dacar, capítulo especial na produção do cinema popular brasileiro, David Cardoso vinha de uma bem-sucedida parceria com o cineasta Jean Garrett, para quem produziu seu primeiro filme – e também protagonizou -, o policial de suspense A Ilha do Desejo.

Cardoso e Garrett se unem para mais um rebento e o resultado é o ótimo Amadas e Violentadas, filme que reafirmaria Garrett não só como mais uma promessa, mas já sinalizando aquele que seria autor de uma das mais importantes e inspiradas filmografia realizadas na Boca.

Em Amadas e Violentadas, David Cardoso é um escritor policial que vive sem amigos em sua bela casa, apenas na companhia de seus empregados. Uma série de assassinatos começa a pipocar ao seu redor e a polícia faz do escritor, cada vez mais, seu principal suspeito, ainda que não consiga incriminá-lo.

Certo dia, Cardoso encontra Fernanda de Jesus, uma moça assustada que diz estar sendo perseguida por uma seita satânica. Impactado pela inocência e desamparo da bela garota, ele a leva para sua casa. Começa aí uma possibilidade de redenção para o escritor, cada dia mais abalado pelos fantasmas do passado.

Amadas e Violentadas é mesmo um grande filme. E Fernanda de Jesus está perfeita em seu ar de Lolita ingênua e pura, sempre rodeada de perigos: seja pelos fanáticos que a perseguem para sacrifício, seja por estar ao lado de um criminoso.

A tarefa de Fernanda de Jesus não é nada fácil, pois está em elenco de musas estonteantes: Arlete Moreira, Aldine Muller, Sônia Garcia, Zélia Diniz, Silvana Lopes, Carmen Angélica. Mas a atuação e a beleza da atriz casa perfeitamente com aura pretendida pela personagem, reservando para Fernanda de Jesus o posto imediato de nova Musa da Boca do Lixo.

Depois de voltar a atuar no cinema carioca, nada menos do que no arrasa-quarteirão Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto, Fernanda de Jesus volta a atuar na Boca.

É J. Marreco, diretor que vinha de A Carne (1975), protagonizado por Selma Egrei, e depois elegeria outra musa como protagonista, Monique Lafond, para Emmanuelle Tropical (1977), que faz a ótima ação em trazer novamente Fernanda para os domínios da Boca.

Em Passaporte para o Inferno (1976), a musa está novamente em uma trama policial, dessa vez não mais apenas ao lado de um criminoso, mas quatro assassinos, todos eles foragidos de uma prisão. Dentre eles, um violentíssimo Jonas Mello.

Passaporte para o Inferno foi, infelizmente, seu último filme – além destes trabalhos no cinema, Fernanda de Jesus atuou na televisão na novela O Rebu (1974/75), um marco de Bráulio Pedroso.

Filmografia

– Eu Dou o que Ela Gosta, , 1975, Braz Chediak
– Amadas e Violentadas, 1975, de Jean Garrett
– Dona Flor e seus Dois Maridos, 1976, de Bruno Barreto
– Passaporte para o Inferno, 1976, de J. Marreco