O Quarto

Dossiê Ewerton de Castro

O Quarto
Direção: Rubem Biáfora
Brasil, 1968.

Por Adilson Marcelino

Ewerton de Castro estreou no cinema em O Quarto, de Rubem Biáfora.

Nada mal, não? Afinal, O Quarto é filme acachapante e que só faz crescer a cada revisão.

A trama dá lugar para o GRANDE Sérgio Hingst brilhar de ponta a ponta como Martinho, um pobre diabo que vive sendo explorado e humilhado pelos colegas de repartição. Ele sente raiva, mas é incapaz de revidar, engolindo em seco os desaforos diários.

Martinho divide seus dias e suas noites em cotidiano marcado pelo trabalho, o pingado pelas manhãs e o rabo de galo à noite. Faz também caminhadas noturnas, sempre em busca de prostitutas, com as quais quer mais beijos e abraços que sexo, radiografia perfeita de suas carências afetivas.

Resta-lhe ainda, nesta vida ordinária, o quarto, onde relembra suas penas e se apequena em seu anti-Repouso do Guerreiro.

Essa crônica de destino anunciado sofre uma reviravolta quando conhece uma ricaça, Giédre Valeika, despertando uma coragem insuspeita e fazendo emergir nele os mesmos sentimentos/comportamentos de quem sempre o subjugou.

O Quarto é mesmo um jóia. Poucas vezes se viu casamento tão perfeito entre roteiro, direção e escalação de seu protagonista – e há ainda a fotografia de Rudolph Icsey e a câmera de Pio Zamuner.

Biáfora craque da pena em suas críticas, estava mesmo inspirado quando escreveu essa história. “você quis tomar champanhe e eu quis beber pinga”, é um dos diálogos certeiros e cruéis desse grande filme que é O Quarto.

Em elenco, que conta ainda com Pedro Stepanenko, Francisco Curcio, Berta Zemel, Lélia Abramo e Pedro Paulo Hatheyer, Ewerton de Castro é o funcionário da repartição que está em experiência, e por isso submisso a todos – inclusive de Martinho, que em cena emblemática de seu caráter, vinga-se em Ewerton o que sofre na mão de seus chefes.