Entrevista com Francisco Ramalho Jr. – parte 4

Dossiê Francisco Ramalho Jr.

Entrevista com Francisco Ramalho Jr.
Parte 4: Voltando à direção

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Francisco Ramalho Jr. e Vanessa Giácomo em Canta Maria

Por Gabriel Carneiro

Zingu! – Depois você passou a se dedicar mais à produção, mas mesmo assim foram poucas, até o começo dos anos 2000. Era muito difícil fazer cinema no Brasil nesse período?

Francisco Ramalho Jr. – Fiz no final dos anos setenta muitos curtas como produtor, e, posteriormente, nos anos oitenta, vários longas, dois como diretor, outros como produtor, mas, de fato, até chegar a lei do audiovisual houve anos difíceis para o cinema brasileiro (a derrocada do modelo Embrafilme, o desaparecimento do Concine e das leis longamente conquistadas, etc).

Z – As coisas mudaram com a chamada Retomada?

FR – Sim, muito devagar de início até o boom atual, com mais de 100 filmes por ano, com todos os gêneros e criatividade em todas as regiões do país, congraçando novos talentos e reafirmando outros.

Z – Como foi voltar a dirigir depois de vinte anos?

FR – Normal, você não desaprende de nadar.

Z – Por que fazer Canta Maria? Como surgiu o filme?

FR – Um projeto ligado a outros períodos de minha vida: o nordeste e sua cultura foram muito forte nos anos de minha formação e lá estivera fazendo documentários. Quando descobri o livro que deu origem ao filme, Os Desvalidos, do Francisco Dantas, encontrei nele uma sintonia comigo e um material com histórias que me tocavam e me tocaram. Era e é uma grande história de amor passado num período da história do nordeste, de 35 a 38, em que a população vivia num fogo cruzado de uma guerra civil, bandidos e policiais, como ainda hoje vivem segmentos da população brasileira.

Z – Porque o nordeste e sua cultura foram muito fortes na sua formação?

FR – Nos anos sessenta, a cultura nordestina (Gilberto Freyre, Josué de Castro – Rossellini veio ao Brasil para filmá-lo -, Raquel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Amando Fontes, Ariano Suassuna, a literatura de cordel, etc), eventos políticos (as ligas camponesas de Francisco Julião, por exemplo) e religiosos (os fenômenos de beatismo), as revoltas populares, o cangaço dos anos 20 e 30, etc – tudo isso fervia e me impressionava aqui no sul. Fizeram e fazem parte de meu modo de ver e pensar o mundo. E fico feliz em ver que o nordeste atual está muito modificado e em amplo progresso. Lamento apenas ver tantos jegues abandonados, pois foram substituídos pelas motos. Mas é o ciclo da vida.

Z – Quanto custou?

FR – Foi barato, considerando que era de época, em locações distantes, na Paraíba e em Pernambuco. Filmei muito rapidamente, em cinco semanas e meia, com equipe pequena, bela fotografia em scope do Lucio Kodato, grandes atores (Vanessa Giácomo, Marco Ricca, José Wilker, Edward Boggis, entre outros), musica do Dimi Kireeff com canções especialmente criadas pela Daniela Mercury. Foi um prazer.

Z – Quais os seus projetos atuais? E os próximos?

FR – Lançamos o A Suprema Felicidade, do Arnaldo Jabor. Um grande filme, uma grande felicidade poder fazê-lo. Estou envolvido em vários projetos que espero crescerem para comentá-los

Z – Você pode falar um pouco de América Americana, que você vai dirigir?

FR – É uma história de amizade entre duas pessoas de culturas distintas que são obrigadas a superar suas diferenças. Um argumento que me foi contado por um grande amigo meu, o Paulo Brito.

Parte 3

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