Dossiê Jair Correia
Mágoa de Boiadeiro
Direção: Jeremias Moreira Filho
Montagem: Jair Correia
Brasil, 1978.
Por Adilson Marcelino
Na década de 1970, o cineasta Jeremias Moreira Filho fez parceria com o cantor Sérgio Reis em dois filmes rurais inspirados em músicas sertanejas de sucesso: Menino da Porteira (1976) e Mágoa de Boiadeiro (1977).
Só que ao contrário de Menino da Porteira, que foi um grande sucesso de público – e marcou a volta do cineasta mais de trinta anos depois com um remake -, infelizmente Mágoa de Boiadeiro não repetiu o sucesso da dobradinha.
Pura injustiça, pois Mágoa de Boiadeiro é filme rural dos mais interessantes.
O roteiro de Benedito Ruy Barbosa, um craque nesse universo e que depois focalizaria a ruralidade em novelas de sucesso, é inspirado na música homônima de Índio Vago e Nonô Basílio.
Na trama, Sérgio Reis é Diogo, um condutor de boiada que vê o crepúsculo de sua profissão, de seu grupo e de toda uma cultura arraigada no campo com a chegada do transporte de gado em frotas de caminhões.
Há ainda um entrecho amoroso com o galã sendo disputado por Malu Rocha e Maria Vianna, e mais o embate com o proprietário da frota que quer modernizar o transporte de bois em busca de mais lucros e menos riscos.
Tanto Benedito Ruy Barbosa quanto Jeremias Moreira Filho conhecem de perto o universo retratado, e por isso o tempo todo particular que marca o campo é evidenciado não só na história e na direção como também na apropriadíssima montagem assinada por Jair Correia.
Há na história lugar para a graça de Zé Coqueiro, mas há sobretudo uma amargura com o destino inexorável de final de toda uma cultura, restando para os aboiadores o exílio involuntário do campo. Seja para os festivais de rodeios, para outros lugares como o Pantanal, ou ainda mesmo para o subemprego nas cidades.
Mágoa de Boiadeiro é filme melancólico sobre toda uma cultura dizimada pelo chamado progresso.